#Luto! Obrigado Frei Filipinho pela sua ajuda e testemunho à causa do padre Alderigi
Com informações do Jornal Diário do Sudoeste -
Faleceu na manhã desta terça-feira (16), no Hospital Policlínica, em Pato Branco (PR), aos 88 anos, vítima de complicações da covid 19, o Frei Felipe Gabriel Alves, mais conhecido como Frei Felipinho. Nascido em 29 de abril de 1932 em Santa Rita de Caldas (MG), o religioso foi um amigo e importante divulgador da causa de canonização do Servo de Deus Alderigi Torriani. Toda a história, relatos, testemunhos e informações do padre Alderigi foram escritas por ele.
Felipe Gabriel Alves foi o penúltimo filho de uma família de 15 irmãos.Ingressou nos estudos religiosos em 1944 e viveu, ao longo de sua vida, como franciscano por 67 anos e como sacerdote por 62 anos.
O jornal Diário do Sudoeste em sua edição on-line deste dia 16 de fevereiro, assim definiu o Frei Felipinho: "De personalidade forte e expansiva, Frei Felipinho era muito comunicativo e tinha o dom da escrita e da palavra, prestou importante serviço à Renovação Carismática Católica e, por muitos anos, participou de programas em diferentes emissoras de rádio e TV no Brasil. Só no Programa do Jô Soares, foi entrevistado por sete vezes.
Desde 2003 em Pato Branco, também se empenhou com carinho e alegria na produção de conteúdo para as emissoras de rádio e TV da Fundação Cultural Celinauta. Era inquieto e perfeccionista, sempre interessado em aprender.
Também se destacou na concecção de novenas, foram 15, ao todo, para as mais variadas causas, entre elas: 'Novena para superar todo e qualquer medo', 'Novena para quem procura um lindo casamento', 'Novena para se livrar da insônia'.
Ao Frei Felipinho nossas orações, gratidão e homenagens!!!
#TESTEMUNHO: Padre Alderigi, o confessor
Não são poucos os testemunhos de pessoas, religiosos(as) e padres sobre a presença constante do Servo de Deus Alderigi Torriani no confessionário. Era um padre que cobrava seus fiéis na prática do Sacramento da Reconciliação como caminho de Salvação.
O missionário redentorista, padre Geraldo Camilo de Carvalho, é filho de Santa Rita de Caldas e conheceu bem o Padre Alderigi, por isso fala com propriedade dessa dedicação dele como confessor. Esse relato foi escrito no dia dia 15 de maio de 1987.
"Padre Alderigi fez extraordinário bem e exerceu grande influência como confessor, sobre o clero diocesano de Pouso Alegre. Isto foi determinante para termos excelentes párocos nessa região. Quem se beneficiou com isso, evidentemente, fora os fiéis, pois o povo do Sul de Minas sempre teve fama de ser gente piedosa, oferecendo muitas vocações para a Igreja.
Imenso, também, era seu zelo na administração do sacramento da penitência e reconciliação. Na certa, ele foi o homem do confessionário. Nisto, sem dúvida, imitava Cristo conforme está em São Lucas (capítulo 15) em suas parábolas da misericórdia: 'comia com os pecadores'. Aos domingos, dona Zélia tinha que levar a famosa tigela de comida para ele se servir na sacristia, a fim de que nenhum penitente deixasse de ser atendido.
Em geral, ficava rezando o terço no confessionário, a espera que alguém viesse procurá-lo. Muitas vezes, vencido pelo cansaço, dormia mesmo lá dentro da 'casinha do perdão'. Quem estivesse ajoelhado tinha que olhar pelos 'buraquinhos' das grades do confessionário, a descobrir quando de novo estaria pronto para atender-lo.
Comigo nunca aconteceu isto, mas tive ocasião de presenciar estes fatos e muitas vezes vê-lo sorrir no confessionário. Aquele sorriso parecia-me refletir ou transmitir extraordinária bondade."
Textos contidos no livro “Padre Alderigi – o carinho de Deus num coração pobre e alegre”, volume 1, do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M.
Padre Alderigi cura a menina cega
Padre Alderigi já estava bem baqueado. Sua fama de homem de Deus, com o poder dos milagres, já era conhecida por todos. Deveria ser 1974, exatamente num 22 de maio, com o santuário de Santa Rita totalmente lotado de romeiros, devotos e fiéis.
José Bouças estava junto da escada lateral, quase à frente, bem perto de uma mãe, cheia de fé, com os olhos pregados no padres santo que abençoava a multidão. Junto a ela ,com aquele olhar vago, perdido no infinito, segurando o braço materno, único ponto de apoio em tantos caminhos sem rumo, grudava-se a ela uma infeliz menina cega. Se tivesse, seriam uns 9 anos de idade no máximo.
O padre continuou a bênção, suplicando a todos que perdoassem seus inimigos. Continuou pedindo a Santa Rita que olhasse a fé daquele povo sofrido, sem ninguém para velar por ele. Insistiu ainda que todos se convertessem para Deus e que Nele confiassem. E aquela mãe seguia palavra por palavra, fazendo seu coração abrir-se para a Graça de Deus, através de Santa Rita e do padre Alderigi.
Terminada a oração, o santo sacerdote tomou a água benta e começou a aspergir a multidão. Olhou para aquela mãe e os olhos se encontraram. E ela acreditou.
A menina começou a grita de gozo e espanto. A mãe, emocionada com a vida nos olhos da filha, apertava-a contra seu peito e molhava seu rosto com aquelas lágrimas quentes, brotadas da fé, jorradas da alegria. Agora tinha certeza que deus estava naquele homem tão baqueado pela idade e pela doença, mas com a alma gigante, qual montanha de amor e compaixão. O povo também chorava, glorificando a Deus, que assim visitava seu povo. Como é maravilhoso ver feições e cores, o balanço das árvores e as estrelas do céu.
Textos contidos no livro “Padre Alderigi – o carinho de Deus num coração pobre e alegre”, volume 4, do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M.
Padre Alderigi sempre foi reconhecido por ser um homem caridoso
Dentre os relatos sobre o Padre Alderigi Torriani, não faltam relatos de gestos caridosos e de amor ao próximo.
"Se houve um homem que entendeu o 'amai-vos uns aos outros', foi o Padre Alderigi", disse Olímpia Ferreira da Silva, em abril de 1987.
Durante a Páscoa, o bom padre pedia às pessoas um prato de qualquer comida gostosa para entregar às pessoas idosas mais carentes.
"Mas quando ele ia por aqueles altos da Aparecida confessar seus doentes pobrezinhos, escondidamente, ia dando a cada um aquela nota dobrada, de Cr$5.000,00 (com Cr$ 1.500,00 se podia comprar um quilo de arroz). Mas, o que não posso me esquecer é que até o túmulo do meu pai, falecido em 1929, que ficou em Cr$ 70.000,00, também foi dado em segredo por ele", completou dona Olímpia.
Outras histórias foram relatadas pelo senhor José Torriani, irmão do Servo de Deus. Antigamente, o povo pobre da zona rural vinha enterrar seus mortos em redes, mas o padre bom acabou com isso. Seu irmão, mesmo, teve fazer uns três caixões com suas próprias mãos. Em muitas oportunidades Padre Alderigi saiu pedindo esmolas para fazer caixões para os defuntos pobres.
O Padre Alderigi, bom padre, pastor zeloso, sabia quem tinha faltado à missa e na rua perguntava o porquê da falta.
"Um dia perguntou a um pobre: 'por quê você não foi à missa?'. Ele respondeu que era por causa da chuva. Na mesma hora, o padre deu sua capa de chuva 'ideal', aquela comprida e grande que o padre usava quando andava à cavalo, que tinha ganho a pouco, no dia de seu aniversário. Bem que o padre Aurélio Mesquista tinha dito aos amigos: 'Esta capa ele vai dar para o primeiro pobre que ele encontrar'", disse senhor José Torriani.
Textos contidos no livro “Padre Alderigi – o carinho de Deus num coração pobre e alegre”, volume 2, do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M.
"Para ele só uma coisa é necessária: salvar almas"
Durante os anos que o padre Alderigi Torriani viveu em Santa Rita de Caldas, muitas foram as homenagens prestadas. Uma, em especial, foi feita no dia 27 de março de 1957, quando ele completou 30 anos de paroquiato naquela cidade. O discurso foi realizado pelo Dr. André Avelino da Silva.
"Bem já dissera Cristo de seus sacerdotes: 'Vós sois a luz do mundo'. Eis, senhores, que este pároco bom e piedoso aqui vive há 30 anos. Sua vida é feita no sacrifício e na oração, no trabalho e na alegria. Os seus dias decorrem puros como ouro e brilhantes como os cristais que brilham nas rochas da montanha. Trabalho e oração, sacrifício e alegria parecem formar a sua vida. Para ele não há descanso, porque se repousa nas caladas noturnas e o chamam, aberto está ele para todas as eventualidades.
Não teme a condução que se lhe apresentam, não reclama, não desanima... Para ele uma só coisa é necessária: salvar almas.
Se a caminhada é íngreme e o moribundo jaz no tétrico enlace da agonia, se o animal que lhe trouxeram fraqueja, está pronto a chegar a pé. Não importa! É o padre que se forjou para Deus e para os homens.
Sua vasta paróquia que compreende quase duas dezenas de capelas, é por ele constantemente visitada. Em cada recanto que passa deixa a sua bênção de pai e enviado de Deus que é.
Para ele não há distinção da cor ou a suntuosidade e magnificência que dinheiro pode dar.
Se necessitam do apoio moral ou religioso, não lhe importa se estes pertencem ou deixam de pertencer ao grêmio santo da Igreja. Trata cada um como se fosse o mais dileto filho. Os seus anos de vida só servem para o tornar mais venerável diante dos homens. É o sacerdote que não se verga aos trabalhos de uma austera e insana vida de obreiro profícuo da Igreja e defensor perpétuo da Santa Religião Católica.
Há 30 anos ele vive conosco!...
Quantas vezes o vemos pregar contra o analfabetismo! E vezes quantas, ainda, o vemos empenhado na fundação de escolas rurais para melhor aproveitamento da juventude. E a sua própria cultura e inteligência, quem pode desconhece-las?
Padre de Deus e dos homens, ai está ele..."
Trecho do discurso do Dr. André Avelino da Silva, advogado e líder paroquial. Presente no livro: “Padre Alderigi – o carinho de Deus num coração pobre e alegre”, volume 5, do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M.
A admiração dos familiares pelo padre Alderigi Torriani
Dentre os diversos relatos que se tem arquivados, muitos vêm dos familiares do próprio Servo de Deus Alderigi Torriani. O relato de hoje foi feito pela sobrinha, Maria Lavínia Inez Torriani Ferri, em novembro de 1987. Ela é filha de Pedro Torriani, irmão do Padre Alderigi.
"Eu tinha loucura pelo tio padre. Sabia, desde pequena, que ele era um homem de Deus e que seria um futuro santo da Igreja. Perto dele, a gente se sentia protegida. Colocava-o acima de tudo, menos acima de Deus.
Quando meu pai, Pedro Torriani, irmão do tio padre, me levava para Santa Rita de Caldas, a gente ia chegando, sempre subindo por serras sem fim, até chegar à terceira cidade mais alta do Brasil. De lá se descortinava um paraíso de montanhas azuis, altas e belas. A serra da Gineta, bem em frente, com seus três picos orgulhosos, o mais alto com 1518m. Mais em cima e mais atrás, a serra da Pedra Branca, chegando até 1764m. Tudo criava um mundo encantado de céu e pureza.
A primeira coisa que papai fazia era levar-nos à Igreja, para recebermos a bênção dada por esse grande tio, o querido Padre Alderigi. A bênção era dada perto do altar de Santa Rita, a santa de sua devoção.
Era santo e era enérgico. Impunha muito respeito. Perto dele, tínhamos de orar juntos, às refeições e antes de dormir. Bem que nosso pai sempre nos previnir: 'o Alderigi é um santo. Têm que obedecer tudo o que ele falar!' Todavia, depois de tomarmos a bênção dele, a gente se sentia como se fosse outra pessoa. A gente se sentia alegre. Sabíamos ser ele um santo. Sempre que tínhamos alguma graça a alcançar, íamos a ele, pedindo oração, e alcançávamos de tudo.
Cada vez que ele ia comer conosco, benzia o pão com o sinal da cruz. Depois o partia com as grandes mãos e os distribuia entre nós.
Eu, criança, volta e meia lhe perguntava de quem ele gostava mais, se de mim ou se de meu irmão Zé Luis. Mas ele não declarava sua preferência, embora eu sempre quisesse escutar: 'Claro que é de você'. Ele, porém, rindo e brincando, sempre respondia: 'Tudo é uma coisa só'.
Mas, meu casamento foi lindo. Ele foi até Abatiá(PR), onde eu morava. Era 1951. Foi e fez muita gente chorar de emoções: "Casados, têm que amar um ao outro. Como Deus nos ensinou. Sigam fielmente a Lei de Deus. Um vai amar o outro na alegria e na dor! Um não pense em trair o outro em qualquer ponto de vista. Só Deus poderá separar...etc'.
Com mil problemas, mais tarde, procurei-o em Santa Rita de Caldas, pedindo-lhe socorro. E o conselho sábio logo se fazia ouvir:
'É preciso aguentar, como Santa Rita aguentou e venceu'
A seguir, contava a vida de sua padroeira. Depois arrematava, prudentemente: 'Nunca esconda nada ao marido'.
Era afetuoso. Abraçava a gente e depois dava a bênção. E se percebesse algo em nossos olhos, vinha sempre com a admoestação: 'Você já está com a alma limpa? Você já se confessou?'
Textos contidos no livro “Padre Alderigi – o carinho de Deus num coração pobre e alegre”, volume 3, do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M.
Há 43 anos falecia padre Alderigi Torriani
Às 23h do dia 3 de outubro de 1977, padre Alderigi Torriani fazia sua passagem para a Eternidade.
"Agora, em seu último momento, peguei o crucifixo e dei-lhe para que beijasse. E a morte foi rápida e calma. Logo depois, foi chegando gente. Era dia 3 de outubro de 1977, às 23h”, contou sua grande amiga, dona Zélia.

Ele tinha recebido alta do hospital neste dia, a pedido dele mesmo. No hospital, quando lhe davam remédio, padre Alderigi sempre perguntava: “Este remédio e para tirar a dor? Se é, não quero. Vai perguntar”.
No dia 3 de outubro de 1977 seu estado era gravíssimo. Junto aos médicos, o padre, aflito, desejava voltar para Santa Rita de Caldas. Os médicos consentem. O senhor João Lorena, amigo de padre Alderigi, estava com ele neste momento e relembra a alegria com o bom padre recebeu a notícia.
“Nós, que com ele estávamos, vimos nele uma transformação total, uma mudança sentida. O padre, que capengava de dor, põe-se de pé, pede que se lhe dê a batina, faz-se trocar rapidamente e lá está ele, sorridente, mas com os olhos fundos, a esperar a hora de ira para a sua casa. Quer voltar logo. Com a chegada da ambulância, a alegria do padre foi total. Deixa seu quarto, abençoando e agradecendo a todos. O povo de Santa Rita, que sabe do seu retorno, o espera na praça da Matriz”, disse.
Um último pedido do padre foi obedecido pelo senhor João, por dona Zélia (sua governanta) e pelo motorista da ambulância. Quer passar na igreja matriz. “Parem em frente à igreja”, teria pedido padre Alderigi.
Chegam em Santa Rita por volta das 16h. Rezaram o terço o tempo todo por pedido do padre Alderigi. O padre que tinha substituído, padre Braz, é quem o recebe. Abre a porta da matriz para que o eterno padre da cidade fizesse suas últimas orações.
“A ambulância para na rampa. Vamos descer o padre? Não é aconselhável. Abrimos a porta da ambulância e o padre, de mãos postas, faz sua prece ante a urna de Santa Rita, despede-se do Santíssimo Sacramento. Joga beijos e rumamos para a casa paroquial. Casa pequena, seu quarto pequeno. Portas estreitas, como passa-lo de maca? Todos querem ajudar. Vira-se daqui e dali. Está difícil. Vamos erguer a maca...muita gente, muitas mãos. A posição é incômoda, ao invés de cabeça para cima, cabeça para baixo e lá vai o padre, transpondo a porta do quarto, quase caindo ou derrubado”, continua o seu João.
Mesmo nessa dificuldade, padre Alderigi não perde a consciência: “Oi gente! Tenham cuidado, assim eu caio”, teria dito.
Chegando à casa paroquial, padre Alderigi pediu para comungar.
“Ficou cantando enquanto fui ao santuário buscar a Comunhão. Seu canto era ‘Bendito, louvado seja’, embora desafinado. Fazia questão que houvesse duas velas, flores e toalha. Para a comunhão, sempre usava sobrepeliz e estola. Hoje, não”, completou dona Zélia.
Após a comunhão, padre Alderigi quis jantar. “Zélia, quero a comida que você sabe fazer”, disse ele. Fizeram carne moída, arroz e macarrão.
“Eu tinha prometido a ele uma cerveja, para quando tivéssemos chegado em Santa Rita de Caldas e o padre lembrou-se dela. Mandei alguém buscá-la no bar. Ele bebeu um pouco e alimentou-se bem. Depois dormiu até às 22h”, lembrou a governanta, dona Zélia.
Os últimos momentos do padre Alderigi vão se contados pela sua própria Zélia, que dedicou sua vida para cuidar do Servo de Deus.
“Eu é que devia dar-lhe a comida na boca. Ele mostrava o banquinho e nele me sentava e lá ficava, servindo. Assim fiz muitas vezes, assim fiz pela última vez. Às 22h, pediu qualquer coisa para comer. Como a maçã estava dura, ele apenas provou. Ofereceram-lhe uma fatia de melão. Comeu apenas um pedacinho. Como, depois disto, o líquido da bexiga espalhou-se e molhou a batina com que estava vestido, saí do quarto para os homens trocarem-lhe a roupa. Após isto, entrou em coma. Bem que ele me disse a mim, que sempre dormia em minha casa: ‘Hoje não vai embora. Hoje é o meu dia’.
Perto das 23h, Zé Diogo me disse: ‘Credo! Que cara de defunta você tem, Zélia. Senta no sofá e durma um pouco!’ Sentei-me no sofá. Pouco depois, uns dez minutos, Zé Diogo gritou: ‘Zélia, venha depressa! Parece que ele está virando os olhos’. Acorri logo e disse: ‘Chamem o padre e o médico’! Eles saíram e me largaram sozinha. Havia um crucifixo na parede. Com este crucifixo, ele tinha, muitas vezes, dito: ‘Jesus, a dor está mais forte. Será que vou aguentar?’ Quando falava isto, ele ficava com vergonha e sorria. Agora, em seu último momento, peguei o crucifixo e dei-lhe para que beijasse. E a morte foi rápida e calma. Logo depois, foi chegando gente. Era dia 3 de outubro de 1977, às 23h”.
Velório
Ainda de madrugada, quando o corpo desceu em direção à igreja, os sinos tocaram. A população desceu em “peso”. A rádio de Poços de Caldas, sem parar, ia dando a notícia do falecimento. Poços de Caldas decretou luto de três dias. Veio gente de muitas cidades: Caldas, Ipuiúna, Ibitiúra, Andradas, Poços de Caldas, Alfenas, Pouso Alegre, Jacutinga, Campo Belo e outras cidades.
“O povo chorava amargamente, beijando suas mãos”, lembra Edmea Maia.
A missa é celebrada em frente à igreja matriz, que está lotada. Todos choram. São lágrimas de dor, de sentimento, de gratidão, de amor, de veneração. Terminada a cerimônia, seu corpo é levado para o cemitério. Todos querem carrega-lo. A multidão se aglomera e o caminho até o cemitério está repleto de amigos.
“Pouco a pouco a urna se cobre. Todos lá estão, sem arredar um passo. Tudo acabado. O sol declina. Vem a noite. No céu, as primeiras estrelas. Na casa do Pai, os coros dos Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins, Tronos e Potestades, a Virgem Maria, Santa Rita, todos os Santos da Milícia Celeste cantam hinos de louvor à Trindade, pela entrada, no Reino que não terá fim, dessa alma que deixou a todos um exemplo de religiosidade, humildade, amizade, sinceridade. Antecipou-nos, sim, e lá está ele, vivo a olhar e interceder por todos nós”, escreve João Lorena.
Fama de santidade
Em vida, Padre Alderigi já possuía uma difundida fama de santidade. Muitas são as pessoas que relatam ter recebido graças de Deus após terem pedido sua bênção e seus conselhos. No dia de sua morte, os poucos pertences que Padre Alderigi possuía foram divididos entre o povo que queria conservar uma relíquia do querido pároco.
Ainda hoje, as pessoas levam tais relíquias até aqueles que se encontram gravemente enfermos e muitíssimos são os relatos de graças alcançadas através da intercessão de Padre Alderigi. Depois de sua morte, tal fama de santidade continua a se espalhar, atingindo não só o sul de Minas, mas todo o Brasil.
Devido a esta tão grande fama de santidade, o Arcebispo de Pouso Alegre, Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho - Opraem., decretou a introdução do Processo de Canonização de Padre Alderigi. Este processo se desenvolve em uma fase diocesana e, depois, na Congregação das Causas dos Santos, no Vaticano, na fase romana.
A partir da abertura deste processo de canonização, Padre Alderigi é chamado Servo de Deus. Este título indica que um processo está sendo realizado para que a Igreja reconheça, oficialmente, que ele viveu, de modo heróico, as virtudes cristãs e seja apresentado como modelo de santidade a todos os católicos.
Neste ínterim, foi realizada a exumação dos restos mortais do Servo de Deus Padre Alderigi para o reconhecimento canônico e o translado do cemitério para o santuário de Santa Rita, em Santa Rita de Caldas - MG. Essa celebração foi realizada dos dias 01 a 04 de agosto de 2008.
Realizados a exumação e o reconhecimento canônico, os restos mortais do Servo de Deus foram transladados em procissão, com a participação de muitos fiéis, para o Santuário de Santa Rita, onde repousarão para sempre junto ao povo que Padre Alderigi tanto amou e pelo qual doou toda sua vida.
Em 22 de dezembro de 2018, foi celebrado o encerramento da fase Diocesana do processo de Beatificação e Canonização de padre Alderigi Maria Torriani no Santuário de Santa Rita de Caldas, com a participação do clero arquidiocesano e de centenas de fiéis.
Amor do Padre Alderigi ao Santíssimo Sacramento
No próximo dia 3 de outubro, faremos memória dos 43 anos de falecimento do Servo de Deus Alderigi Torriani. E queremos rogar a Deus para que a Igreja o reconheça santo. Um tríduo na paróquia Santa Rita de Cássia, em Santa Rita de Caldas, marca essa preparação.
A proposta é que, a cada dia, se reflita uma virtude do padre Alderigi: Amor ao Santíssimo Sacramento; Entrega total ao serviço da Igreja; e Devoção à Maria Santíssima.
E para nos ajudar a vivenciar cada uma dessas virtudes, vamos trazer passagens da vida do Padre Alderigi.
Em 1955, o senhor bispo concedeu a permissão para que o Santíssimo Sacramento permanecesse em definitivo na igreja matriz de Ipuiúna. Então, o Padre Alderigi convocou as zeladoras do Apostolado da Oração, as Filhas de Maria e os Congregados Marianos. Nesta ocasião, pediu-lhes não deixar o Santíssimo Sacramento sozinho na igreja, chegando até mesmo a elaborar um horário de visitas para todos. Com aquela fé e amor voltados a Jesus sacramentado e demonstrados pelo exemplo constante de sua vida, aconselhou encarecidamente aos fiéis:
"Passando perto da igreja, vindo e voltando para a casa, passem pela igreja! Conversem com Nosso Senhor sobre suas angústias! Ele é o nosso melhor amigo. É o pai em quem podem confiar. Vocês vão ver como ele é bom. Venham sempre aqui no sacrário para resolver seus problemas e rezem sempre por mim"!
Textos contidos no livro “Padre Alderigi – o carinho de Deus num coração pobre e alegre”, volume 1, do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M.
Imagem da padroeira de MG visitou Santa Rita de Caldas em 1969
No dia 15 de setembro, a Igreja faz memória de Nossa Senhora da Dores, ou também Nossa Senhora da Piedade. Pelas pesquisas e a partir de pessoas da comunidade paroquial, em 1969, a imagem de Nossa Senhora da Piedade, hoje venerada na Basílica na serra da Piedade, visitou Santa Rita de Caldas. Esculpida em madeira (cedro) no século 18, a imagem é atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Em uma carta escrita em janeiro de 1969, Padre Alderigi motiva os seus paroquianos para que se preparem para receber a imagem de Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Minas Gerais. A imagem chegaria em Santa Rita de Caldas no dia 22 de maio do mesmo ano.
“Meus caros conterrâneos:
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima também.
Tenho uma grande notícia para dar aos meus paroquianos!
Quando a gente fala em notícia, dá a ideia de uma novidade, um fato desconhecido. Todos já sabem que no dia 22 de maio, estará aqui presente a venerada imagem de Nossa Senhora da Piedade. Mas o que quero noticiar a vocês é que: Ela não vem só para enfeitar a festa; para chamar atenção como propaganda. Virá par anos trazer as bênçãos da Mãe do Céu, para nos ensinar a sofrer, para tirarmos proveitos de nossas dores.
Entretanto, nada se improvisa!
É necessário que nos preparemos e comecemos já. Todas as quintas-feiras, do meio dia às 6h, haverá exposição do Santíssimo
Sacramento.
Quinta-feira, dia 6 de fevereiro, às 6h15, iniciaremos a piedosa cerimônia das quinze quintas-feiras, como preparação para a grande festa; e, às 6h30, haverá Missa.
Além destes atos comunitários, é necessário: que cada um, que cada família se prepare, porque temos todos necessidade das bênçãos e proteção de Nossa Senhora. Esta é a grande notícia: começo de nossa preparação para a vinda de Nossa Senhora da Piedade; e conto com sua adesão porque só preparando-nos aproveitaremos a vinda de Nossa Senhora.
A todos, as bênçãos do pároco Padre Alderigi”
As palavras e as ações do Servo de Deus Alderigi Torriani são, também para nós, um incentivo a cultivarmos uma sadia devoção a nossa querida Mãe do céu.
Padre Alderigi e seu amor pelos idosos
Numa manhã de inverso, por volta das 5h45 da manhã, Don Zizinha Januzzi D'Ambrosio conta que saiu de casa para telefonar ao seu marido, senhor Rúbens, pois a mãe dela não estava bem. Saindo de casa, viu o Padre Alderigi descendo a rua, que perguntou:
- Aonde vai tão cedo?
Ela respondeu:
- Aonde vai o senhor?
- À Igreja, e você?
- Vou telefonar ao Rúbens, sobre os remédios para minha mãe.
Padre Alderigi disse:
- Sabe o que sua mãe precisa? É de carinho. A pessoa idosa vai se sentindo isolada, inútil e abandonada pelos mais jovens. Por isso, necessitam de muito afeto e carinho.
Textos contidos no livro “Padre Alderigi – o carinho de Deus num coração pobre e alegre”, volume 2, do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M. Crônica da senhora Zizinha Januzzi D'Ambrosio, em 9 de dezembro de 1986.