A difícil jornada do padre Alderigi para visitar seus doentes na zona rural

Padre Alderigi Torriani chegou em Santa Rita de Caldas em março de 1927. Desde então, não faltam relatos da dedicação dele aos trabalhos pastorais e às visitas aos doentes. Isso porque, segundo dados biográficos, aos 32 anos era tão doente que uma paróquia lhe foi dada “para que ali pudesse morrer”. Mas não foi esta a vontade de Deus.
A fazenda Bela Vista, no então distrito de Ipuiúna, pertencia ao senhor Gabriel Junqueira Franco, e servia como ponto estratégico para as visitas pastorais. Dali partiam para locais como Tamanduá, Muro de Pedra, Morro do Chapéu, Vela Vista, Barreiro e Itacolomi, onde o único acesso era apenas à cavalo.
“Até a fazenda do senhor Gabriel, era a charrete do Tuani Vilela que levava o piedoso e destemido sacerdote, acompanhado do esperto e sacudido sacristão, o Briguelinho. Daí para frente, somente os passos firmes dos cavalos selados conseguiam fazê-los cumprir seus dever pastoral”, relatou Gabriel Junqueira no ano de 1992.
Padre Alderigi geralmente tomava as refeições nas capelas visitadas por ele, enquanto o pouso, sempre que possível, era na fazenda Bela Vista.
Num sábado do ano de 1934, vieram buscar o Padre Alderigi para atender confissão no bairro dos Campos (Serra da Gineta). Era mais ou menos 13h. E a viagem não foi nada fácil.
“Saíram a cavalo e foram tão longe, tão longe, que foi o resto do dia e a noite toda no lombo do animal. Pelas seis da manhã que passou por Santa Rita de Caldas, sem entrar na cidade, pois foi seguindo seu caminho até Ibitiúra, onde ele teria que celebrar sua missa dominical das 10h30”, disse o cunhado e professor do Servo de Deus, Sebastião Martins.
Toda essa viagem, da meia-noite em diante, foi em jejum, por causa do jejum eucarístico obedecido pelo clero na época.
“Quando saia para suas viagens a cavalo, sempre levava a capa ideal e seu chapéu preto, de aba larga. E quantas vezes ele chegou na cidade, de volta, tendo fios de gelo pendurados nessas abas, tamanho era o frio, uma vez que nossa região está a mais de mil metros acima do nível do mar”, finalizou Sebastião.
O lavrador José Benedito Peçanha também lembra das “artes” realizadas por padre Alderigi para visitar seus doentes. Por várias vezes foi buscar o vigário depois da meia-noite.
“Às vezes ele veio debaixo de chuva e os cavalos com água até o ‘sovaco’. Algumas vezes, os cavalos trocavam e uma vez o padre chegou a cair dentro do córrego. Como era homem bom e paciente, cumpridor do dever, quase sempre seguia o caminho rezando”, disse.
Mas segundo José Benedito, o pai do padre Alderigi, que na época morava com o filho, não gostava muito destas “aventuras”.
“O pai do padre Alderigi tinha um gênio muito brabo. Por isso, numa dessas ocasiões, em 1940 mais ou menos, desejando evitar maiores xingatórios, o humilde sacerdote me segredou: ‘filho, deixe os cavalos atrás da igreja, escondidos, para meu pai não perceber que estou saindo para atende o doente em confissão'”.
Textos contidos no livro “Padre Alderigi – o carinho de Deus num coração pobre e alegre”, volume 1,do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M.
Gabriel Junqueira (relato de 1992), Sebastião Martins (relato de 1986) e José Benedito Peçanha (relato de 1987)