Uma vida de desapego era o lema do Servo de Deus Alderigi Torriani

O padre Geraldo Camilo de Carvalho é filho de Santa Rita de Caldas. Ele foi ordenado padre pela Congregação do Santíssimo Redentor (redentoristas) e por alguns anos foi missionário na África. No dia 15 de maio de 1987, aos 57 anos, ele deu um bonito testemunho sobre o Servo de Deus Alderigi Maria Torriani, ao falar sobre seu desapego. Leia:

“A meu ver, Padre Alderigi era um homem extremamente desapegado. O desapego era, sem dúvida, evidente no seu modo de buscar a santidade. Parece-me que a sua vida poderia ser resumida assim: tudo para Deus e para os outros e nada para si. Enfim, a sua vida era amar a Deus sobre todas as coisas a ao próximo como a si mesmo.

Para exemplificar, conto o seguinte: quando a paróquia ia celebrar 50 anos de seu sacerdócio, instituiu-se uma comissão de festas e também para sondar como estava a casa do padre, o que faltava etc. Resultado: esperaram o padre dar uma saída e penetraram em sua casa. O coitado não tinha nada. Móveis podres, forro caindo, guarda-roupa  em falta até das mínimas coisas, quase sem roupa. Isso foi o que eu ouvi.

Ele nunca abriu a boca para pedir algo para si. Conforme fiquei sabendo, a casa foi arrumada, o guarda-roupa abastecido com novo enxoval. Mas, dizem ter, pouco tempo depois, dado tudo aos pobres. Eu mesmo ganhei dele um belo roupão, para o qual ele inventou a desculpa de não lhe servir, só para ter a alegria de me dar.

Do seu desapego originava-se certa desorganização. É ponto de vista meu. Dizem outros que muita gente se aproveitava da bondada do padre, indo pedir-lhe remédios. Ele, sem averiguar se o tal era realmente pobre, nem possuindo serviço de assistência social organizado na paróquia, assinava algumas ou muitas receitas de remédio de alguns aproveitadores. Depois, como a conta subisse na farmácia, fazia um festão, com leilão de gado, para pagar as contas. Coitado, era bom demais.

Os santos são assim mesmo: preferem errar mais pelo lado da misericórdia do que acertar pelo lado da justiça escrita. Enfim, ele era uma pessoa sui generis, ou melhor dizendo: o carismático da bondade. Este era a meu ver o seu lado humano”.

Seu desapego era tão grande que em 1977, ele escreveu um manifesto não aceitando salário-aposentadoria ofertado pela Prefeitura. Assim escreveu:

“Escrevo esta, com o coração comovido pela generosidade de todos para comigo. Sim, grande é a minha gratidão, por este ato de caridade para o velho pároco de Santa Rita. Pois considero que, nos 50 anos de meu paroquiano, outro poderia ter feito mais, mesmo considerando que a Sagrada Escritura diz: ‘Mesmo que façamos com galhardia as nossas obrigações, digamos: somos servos inúteis’, e, por isso, não dignos de recompensa e elogios. Considerando que a principal praça de Santa Rita de Caldas tem o meu nome; considerando que há um monumento com o meu busto em bronze, e por tudo isto já estou pago e muito pago pelo pouco que fiz, que não era mais que obrigação minha.

Por pouco fazer, é já bem pago, não poderia aceitar o auxílio mensal que me foi oferecido. Não é orgulho, não. Recebo várias ajudas de pessoas que não gostariam que eu revelasse os seus nomes. De modo que não é necessário este auxílio, não digo com soberba, mas não é necessário

Confio certamente em Deus, que não desamparará em algum caso especial e custoso. Assim sendo, a este meu povo querido, em nome de Santa Rita de Cássia, muito obrigado e que Deus a todos abençoe”.