#Crônica: Padre Alderigi, homem que inspirava confiança

A crônica de hoje foi narrada pela professora Edith Megale Torriani, no dia 9 de novembro de 1987.

Por volta do ano de 1930, Pedro Torriani foi acompanhar seu irmão, Padre Alderigi, a uma confissão na roça. Isso era comum, cavalgando muitas vezes por muitas horas, por caminhos até mesmo perigosos, devido às péssimas estradas da região super montanhosa, onde o número de montanhas da Serra do Servo ou da Gineta era inumerável. Montanhas salpicadas de rochedos de granito, firmes, de coração duro e pesado, despontando entre capoeiras e pastos de gado, escondendo muitas vezes cascavéis, urutus e corais.

As tempestades no tempo de verão são sinfonia de brutalidade e roncos, de ventos carrascos e trovões que enchem o coração de medo e angústia, prenunciadas pelo cavalgar das loucas nuvens negras, com almas escondendo mortes e traições.

E um delas veio como foi anunciada. O sacristão Pedro, estremecido de angústia, ainda exclamou:

– Nossa Senhora, Alderigi. Olhe os relâmpagos!

Realmente eram chicotadas rápidas e contínuas, como se fossem donos do mundo.

– Mas a gente tem que ter confiança em Deus. Foi a simples resposta do homem santo.

De repente, o urro dos ventos soltos abateu, trazendo aguaceiro, implacável, frio, passando ora mais ora menos densos, em ondas persistentes, sacudindo e torcendo os galhos dos jacarandás e cedros, jatobás, unhas-de-boi e outras tantas árvores aterrorizadas.

Os cavaleiros molhados, derramado goteiras dos chapéus, escorrendo pelas capas, escondidos sob as copas dançante das árvores, acompanhados dos berros de desespero de outros trovões, ameaçando a vingança. E o Pedro, mais apavorado, relembrando algo muito sério:

– Nossa, Alderigi. Árvore atrai raio.

– Confiança, meu irmão. Deus sabia que íamos passar por aqui. Tenha confiança! Deus sabe o que faz. Ele mando isso para ver se temos confiança Nele. Portanto, nada de temor!

 

 

Textos contidos no livro “Padre Alderigi – o carinho de Deus num coração pobre e alegre”, volume 3, do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M.