Há 43 anos falecia padre Alderigi Torriani

Às 23h do dia 3 de outubro de 1977, padre Alderigi Torriani fazia sua passagem para a Eternidade.

“Agora, em seu último momento, peguei o crucifixo e dei-lhe para que beijasse. E a morte foi rápida e calma. Logo depois, foi chegando gente. Era dia 3 de outubro de 1977, às 23h”, contou sua grande amiga, dona Zélia.

Dona Zélia (governanta) e Padre Alderigi

Ele tinha recebido alta do hospital neste dia, a pedido dele mesmo. No hospital, quando lhe davam remédio, padre Alderigi sempre perguntava: “Este remédio e para tirar a dor? Se é, não quero. Vai perguntar”.

No dia 3 de outubro de 1977 seu estado era gravíssimo. Junto aos médicos, o padre, aflito, desejava voltar para Santa Rita de Caldas. Os médicos consentem. O senhor João Lorena, amigo de padre Alderigi, estava com ele neste momento e relembra a alegria com o bom padre recebeu a notícia.

“Nós, que com ele estávamos, vimos nele uma transformação total, uma mudança sentida. O padre, que capengava de dor, põe-se de pé, pede que se lhe dê a batina, faz-se trocar rapidamente e lá está ele, sorridente, mas com os olhos fundos, a esperar a hora de ira para a sua casa. Quer voltar logo. Com a chegada da ambulância, a alegria do padre foi total. Deixa seu quarto, abençoando e agradecendo a todos. O povo de Santa Rita, que sabe do seu retorno, o espera na praça da Matriz”, disse.

Um último pedido do padre foi obedecido pelo senhor João, por dona Zélia (sua governanta) e pelo motorista da ambulância. Quer passar na igreja matriz. “Parem em frente à igreja”, teria pedido padre Alderigi.

Chegam em Santa Rita por volta das 16h. Rezaram o terço o tempo todo por pedido do padre Alderigi. O padre que tinha substituído, padre Braz, é quem o recebe. Abre a porta da matriz para que o eterno padre da cidade fizesse suas últimas orações.

“A ambulância para na rampa. Vamos descer o padre? Não é aconselhável. Abrimos a porta da ambulância e o padre, de mãos postas, faz sua prece ante a urna de Santa Rita, despede-se do Santíssimo Sacramento. Joga beijos e rumamos para a casa paroquial. Casa pequena, seu quarto pequeno. Portas estreitas, como passa-lo de maca? Todos querem ajudar. Vira-se daqui e dali. Está difícil. Vamos erguer a maca…muita gente, muitas mãos. A posição é incômoda, ao invés de cabeça para cima, cabeça para baixo e lá vai o padre, transpondo a porta do quarto, quase caindo ou derrubado”, continua o seu João.

Mesmo nessa dificuldade, padre Alderigi não perde a consciência: “Oi gente! Tenham cuidado, assim eu caio”, teria dito.

Chegando à casa paroquial, padre Alderigi pediu para comungar.

“Ficou cantando enquanto fui ao santuário buscar a Comunhão. Seu canto era ‘Bendito, louvado seja’, embora desafinado. Fazia questão que houvesse duas velas, flores e toalha. Para a comunhão, sempre usava sobrepeliz e estola. Hoje, não”, completou dona Zélia.

Após a comunhão, padre Alderigi quis jantar. “Zélia, quero a comida que você sabe fazer”, disse ele. Fizeram carne moída, arroz e macarrão.

“Eu tinha prometido a ele uma cerveja, para quando tivéssemos chegado em Santa Rita de Caldas e o padre lembrou-se dela. Mandei alguém buscá-la no bar. Ele bebeu um pouco e alimentou-se bem. Depois dormiu até às 22h”, lembrou a governanta, dona Zélia.

Os últimos momentos do padre Alderigi vão se contados pela sua própria Zélia, que dedicou sua vida para cuidar do Servo de Deus.

“Eu é que devia dar-lhe a comida na boca. Ele mostrava o banquinho e nele me sentava e lá ficava, servindo. Assim fiz muitas vezes, assim fiz pela última vez. Às 22h, pediu qualquer coisa para comer. Como a maçã estava dura, ele apenas provou. Ofereceram-lhe uma fatia de melão. Comeu apenas um pedacinho. Como, depois disto, o líquido da bexiga espalhou-se e molhou a batina com que estava vestido, saí do quarto para os homens trocarem-lhe a roupa. Após isto, entrou em coma. Bem que ele me disse a mim, que sempre dormia em minha casa: ‘Hoje não vai embora. Hoje é o meu dia’.

Perto das 23h, Zé Diogo me disse: ‘Credo! Que cara de defunta você tem, Zélia. Senta no sofá e durma um pouco!’ Sentei-me no sofá. Pouco depois, uns dez minutos, Zé Diogo gritou: ‘Zélia, venha depressa! Parece que ele está virando os olhos’. Acorri logo e disse: ‘Chamem o padre e o médico’! Eles saíram e me largaram sozinha. Havia um crucifixo na parede. Com este crucifixo, ele tinha, muitas vezes, dito: ‘Jesus, a dor está mais forte. Será que vou aguentar?’ Quando falava isto, ele ficava com vergonha e sorria. Agora, em seu último momento, peguei o crucifixo e dei-lhe para que beijasse. E a morte foi rápida e calma. Logo depois, foi chegando gente. Era dia 3 de outubro de 1977, às 23h”.

Velório

Ainda de madrugada, quando o corpo desceu em direção à igreja, os sinos tocaram. A população desceu em “peso”. A rádio de Poços de Caldas, sem parar, ia dando a notícia do falecimento. Poços de Caldas decretou luto de três dias. Veio gente de muitas cidades: Caldas, Ipuiúna, Ibitiúra, Andradas, Poços de Caldas, Alfenas, Pouso Alegre, Jacutinga, Campo Belo e outras cidades.

“O povo chorava amargamente, beijando suas mãos”, lembra Edmea Maia.

A missa é celebrada em frente à igreja matriz, que está lotada. Todos choram. São lágrimas de dor, de sentimento, de gratidão, de amor, de veneração. Terminada a cerimônia, seu corpo é levado para o cemitério. Todos querem carrega-lo. A multidão se aglomera e o caminho até o cemitério está repleto de amigos.

“Pouco a pouco a urna se cobre. Todos lá estão, sem arredar um passo. Tudo acabado. O sol declina. Vem a noite. No céu, as primeiras estrelas. Na casa do Pai, os coros dos Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins, Tronos e Potestades, a Virgem Maria, Santa Rita, todos os Santos da Milícia Celeste cantam hinos de louvor à Trindade, pela entrada, no Reino que não terá fim, dessa alma que deixou a todos um exemplo de religiosidade, humildade, amizade, sinceridade. Antecipou-nos, sim, e lá está ele, vivo a olhar e interceder por todos nós”, escreve João Lorena.

Fama de santidade

Em vida, Padre Alderigi já possuía uma difundida fama de santidade. Muitas são as pessoas que relatam ter recebido graças de Deus após terem pedido sua bênção e seus conselhos. No dia de sua morte, os poucos pertences que Padre Alderigi possuía foram divididos entre o povo que queria conservar uma relíquia do querido pároco.

Ainda hoje, as pessoas levam tais relíquias até aqueles que se encontram gravemente enfermos e muitíssimos são os relatos de graças alcançadas através da intercessão de Padre Alderigi. Depois de sua morte, tal fama de santidade continua a se espalhar, atingindo não só o sul de Minas, mas todo o Brasil.

Devido a esta tão grande fama de santidade, o Arcebispo de Pouso Alegre, Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho – Opraem., decretou a introdução do Processo de Canonização de Padre Alderigi. Este processo se desenvolve em uma fase diocesana e, depois, na Congregação das Causas dos Santos, no Vaticano, na fase romana.

A partir da abertura deste processo de canonização, Padre Alderigi é chamado Servo de Deus. Este título indica que um processo está sendo realizado para que a Igreja reconheça, oficialmente, que ele viveu, de modo heróico, as virtudes cristãs e seja apresentado como modelo de santidade a todos os católicos.

Neste ínterim, foi realizada a exumação dos restos mortais do Servo de Deus Padre Alderigi para o reconhecimento canônico e o translado do cemitério para o santuário de Santa Rita, em Santa Rita de Caldas – MG. Essa celebração foi realizada dos dias 01 a 04 de agosto de 2008.

Realizados a exumação e o reconhecimento canônico, os restos mortais do Servo de Deus foram transladados em procissão, com a participação de muitos fiéis, para o Santuário de Santa Rita, onde repousarão para sempre junto ao povo que Padre Alderigi tanto amou e pelo qual doou toda sua vida.

Em 22 de dezembro de 2018, foi celebrado o encerramento da fase Diocesana do processo de Beatificação e Canonização de padre Alderigi Maria Torriani no Santuário de Santa Rita de Caldas, com a participação do clero arquidiocesano e de centenas de fiéis.