Em Aparecida, Padre Alderigi era conhecido como "padre Coroinha". Saiba aqui

O Padre Alderigi Torriani sempre foi conhecido pelo seu amor à Eucaristia e à Nossa Senhora. Até mesmo no Santuário Nacional de Aparecida sua fama se estabeleceu. Lá ele era conhecido como o "padre coroinha", pois fazia questão de ajudar em todas as missas quando se fazia romeiro de Nossa Senhora Aparecida.

No dia 15 de maio de 1987, o missionário redentorista e filho de Santa Rita de Caldas, padre Geraldo Camilo Carvalho, escreveu uma carta ao frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M., falando sobre esse amor e carinho do Servo de Deus pela Eucaristia.

Veja o que escreveu padre Geraldo:

"Sinceramente eu ficava muito edificado ao ver o Padre Alderigi celebrar a missa, principalmente o vendo muitas vezes chorar durante a celebração. Com certeza, pelo menos algumas pessoas do povo choravam com ele, edificadas pela sua extraordinária piedade e amor a Deus. Imagino dever ele ter alguns arroubos místicos nessas horas.

Em Aparecida, Padre Alderigi era chamado de 'o padre coroinha', pois fazia questão de ajudar em todas as missas no altar de Nossa Senhora. Não saia nem para o café. Disso sou testemunha. Nesse dia de sua estadia lá, todos os coroinhas estavam dispensados.

Sua devoção à Eucaristia e a Nossa Senhora era mesmo edificante. Quantas vezes o vi passar longo tempo diante do Santíssimo. Aos domingos, depois da missa do povo na roça, levava todos a passarem diante de Nossa Senhora Aparecida, rezando comunitariamente com eles a oração: 'Ó Senhora minha, ó minha mãe, eu me ofereço todo a vós...'.

Mas isto era precedido de um longo e formidável terço cantado pelos piedosos caboclos. Posso, pois testar, que o Padre Alderigi era um grande adorador do Santíssimo e também grande devoto de Nossa Senhora. A passagem da genuína imagem de Nossa Senhora Aparecida em sua casa constituiu, sem dúvida, uma das maiores alegrias de sua vida. O evento foi perpetuado com uma pequena placa de mármore na parede de sua casa.

Suas romarias à Aparecida eram edificantes. Trabalhei lá muitos anos e sou testemunha ocular disso que conto: 'quase sempre avisavam-me de sua chegada, nas famosas jardineiras da época. O Zé Chato era o mais famoso motorista de tais conduções. Logo que chegava à Aparecida, o seu primeiro ato era entrar de joelhos, desde a porta até a grade da comunhão na famosa basílica velha de Nossa Senhora Aparecida. Como qualquer penitente, com seu comprido terço na mão, desfiando as contas do rosário, ia saudando vagarosamente Nossa Senhora'.

Que belo exemplo de fé e de humildade. Isso para mim que conhecia a pureza de sua consciência era mesmo edificante. Em 14 anos de trabalho em Aparecida, pessoalmente fiz isso só uma única vez, submetendo-me a uma penitência destas, em horas de pouco movimento, para pedir que Nossa Senhora me ajudasse. E eu sentia dificuldade de fazer tal sacrifício. Imagine ele, com seu pesado corpo (pois era muito gordo), arrastando-se pesadamente pelo templo a fora, fazendo humildemente sua penitência, como qualquer cristão cheio de fé".

 

 

Texto contido no livro "Padre Alderigi - o carinho de Deus num coração pobre e alegre", do frei Felipe Gabriel Alves, O.F.M.

 

 


Padre Alderigi Torriani: um grande devoto de Santa Rita de Cássia

O Servo de Deus Alderigi Torriani era um grande devoto de Santa Rita de Cássia. Nos 50 anos de paroquiato em Santa Rita de Caldas, sempre fez questão de propagar a devoção à santa das causas impossíveis.

Você sabia que a imagem de Santa Rita, que hoje está no presbitério do Santuário em Santa Rita de Caldas, foi trazida pelo próprio Padre Alderigi? Isso mesmo. Ela foi comprada em Roma e chegou ao município mineiro no ano de 1957.

Em sua visita à Cássia, na Itália

"Por ocasião 5º centenário da morte de Santa Rita de Cássia, um ano antes, monsenhor Alderigi me chamou à sua cidade e me disse: 'Chamei você para fazermos juntos um plano de ação para celebrarmos a festa do 5º centenário. Você não acha que poderíamos começar agora celebrando uma missa festiva com bastante participação de todo o povo, todo o dia 22 de cada mês? E você também não acha  que poderíamos pedir lá na Itália uma imagem faz-símile, em cera, de Santa Rita na urna? Seria um ponto de referência para aumentar a devoção a Santa Rita e seria um motivo para ensinarmos o povo como chegar a Deus por uma vida mais perfeita? Vamos preparar uma festa bem bonita para marcar o 5º centenário de nossa Santinha'", lembra Monsenhor José Carneiro Pinto, na época pároco em Santa Rita do Sapucaí.

O Frei Felipe Alves, em seu livro Alderigi: gigante com olhos de crianças (Editora Vozes, 1994), traz uma crônica onde diz que a festa de Santa Rita em Santa Rita de Caldas passou a ganhar solenidade com a presença de Padre Alderigi.

Em 1957, a festa de 22 de maio começou a ter caráter solene, com grande aglomeração de povo, e atraindo romarias de toda a região. É a grande festa da Padroeira.

"O Padre Alderigi costumava entregar a paróquia a um padre de fora, encarregado da pregação de toda a novena. Embora a paróquia estivesse entregue a outro, ele mesmo se levantava muito cedo, ia à igreja e começava rezando o Ângelus, confessava, celebrava, dava comunhão e aproveitava o resto do tempo para visitar os enfermos e levar-lhes o viático. Assim transcorria a novena", escreve o autor.

E no dia 22 de maio, as atividades começavam ainda de madrugada.

"Ele fazia questão que as missas começassem muito cedo, pelas 4h da manhã, e tivessem sequência, uma após a outra, pelo dia todo, terminando normalmente com solene pontifical às 16h. Ele, pessoalmente, atendia confissões, celebrava sua missa, atendia ao povo em geral. Aí ele se desdobrava em espargir as inúmeras bênçãos de Santa Rita sobre objetos, flores, terços, imagens e principalmente sobre os fiéis, com a recomendação de que elas só teriam valor caso a pessoa estivesse em estado de graça".

Durante a festa ocorriam inúmeras romaria e Padre Alderigi compreendeu logo que elas buscavam não somente Santa Rita, mas também os benefícios que o Senhor derramava através de suas mãos abençoadas. Por isso, com cada romaria, ele agia assim: falava o nome da romaria, ou do local de onde provinha, e dava uma bênção especial. E, se alguém lhe dissesse que vinha desta ou daquela cidade, cujo nome não tinha sido anunciado, voltava para anunciar e abençoar, de modo especial.

"No dia da festa de Santa Rita, o trabalho era tanto que não lhe restava tempo nem para se alimentar. Sintonizado com o povo, ele sofria, temendo ficasse alguém mal acomodado. Preocupava-se também se outros estivessem passando fome", encerra frei Felipe.

 

 

 


Uma vida de desapego era o lema do Servo de Deus Alderigi Torriani

O padre Geraldo Camilo de Carvalho é filho de Santa Rita de Caldas. Ele foi ordenado padre pela Congregação do Santíssimo Redentor (redentoristas) e por alguns anos foi missionário na África. No dia 15 de maio de 1987, aos 57 anos, ele deu um bonito testemunho sobre o Servo de Deus Alderigi Maria Torriani, ao falar sobre seu desapego. Leia:

"A meu ver, Padre Alderigi era um homem extremamente desapegado. O desapego era, sem dúvida, evidente no seu modo de buscar a santidade. Parece-me que a sua vida poderia ser resumida assim: tudo para Deus e para os outros e nada para si. Enfim, a sua vida era amar a Deus sobre todas as coisas a ao próximo como a si mesmo.

Para exemplificar, conto o seguinte: quando a paróquia ia celebrar 50 anos de seu sacerdócio, instituiu-se uma comissão de festas e também para sondar como estava a casa do padre, o que faltava etc. Resultado: esperaram o padre dar uma saída e penetraram em sua casa. O coitado não tinha nada. Móveis podres, forro caindo, guarda-roupa  em falta até das mínimas coisas, quase sem roupa. Isso foi o que eu ouvi.

Ele nunca abriu a boca para pedir algo para si. Conforme fiquei sabendo, a casa foi arrumada, o guarda-roupa abastecido com novo enxoval. Mas, dizem ter, pouco tempo depois, dado tudo aos pobres. Eu mesmo ganhei dele um belo roupão, para o qual ele inventou a desculpa de não lhe servir, só para ter a alegria de me dar.

Do seu desapego originava-se certa desorganização. É ponto de vista meu. Dizem outros que muita gente se aproveitava da bondada do padre, indo pedir-lhe remédios. Ele, sem averiguar se o tal era realmente pobre, nem possuindo serviço de assistência social organizado na paróquia, assinava algumas ou muitas receitas de remédio de alguns aproveitadores. Depois, como a conta subisse na farmácia, fazia um festão, com leilão de gado, para pagar as contas. Coitado, era bom demais.

Os santos são assim mesmo: preferem errar mais pelo lado da misericórdia do que acertar pelo lado da justiça escrita. Enfim, ele era uma pessoa sui generis, ou melhor dizendo: o carismático da bondade. Este era a meu ver o seu lado humano".

Seu desapego era tão grande que em 1977, ele escreveu um manifesto não aceitando salário-aposentadoria ofertado pela Prefeitura. Assim escreveu:

"Escrevo esta, com o coração comovido pela generosidade de todos para comigo. Sim, grande é a minha gratidão, por este ato de caridade para o velho pároco de Santa Rita. Pois considero que, nos 50 anos de meu paroquiano, outro poderia ter feito mais, mesmo considerando que a Sagrada Escritura diz: 'Mesmo que façamos com galhardia as nossas obrigações, digamos: somos servos inúteis', e, por isso, não dignos de recompensa e elogios. Considerando que a principal praça de Santa Rita de Caldas tem o meu nome; considerando que há um monumento com o meu busto em bronze, e por tudo isto já estou pago e muito pago pelo pouco que fiz, que não era mais que obrigação minha.

Por pouco fazer, é já bem pago, não poderia aceitar o auxílio mensal que me foi oferecido. Não é orgulho, não. Recebo várias ajudas de pessoas que não gostariam que eu revelasse os seus nomes. De modo que não é necessário este auxílio, não digo com soberba, mas não é necessário

Confio certamente em Deus, que não desamparará em algum caso especial e custoso. Assim sendo, a este meu povo querido, em nome de Santa Rita de Cássia, muito obrigado e que Deus a todos abençoe".

 

 

 

 

 


#RelatoDeGraça: Vítima de tétano é curado por intercessão do Servo de Deus

Esse relato ocorreu no ano de 1950, quando José Francisco Rodrigues tinha 24 anos de idade. Na época, ele foi vítima de tétano, ficando muito mal. Sua família, vendo seu estado a indicar perigo de morte, resolveu chamar o Monsenhor Alderigi para atender-lo em confissão. Monsenhor o confessou e, como para a recepção da comunhão era necessário certo jejum Eucarístico, ele lhe disse que ficasse calmo e que, pela manhã, no outro dia, lhe traria a comunhão.

Monsenhor ainda não tinha deixado a residência do enfermo, quando este entra em uma terrível crise. O sacerdote se assusta, não diz nada, sai e, pouco depois, volta com o Sagrado Viático que ele lhe dá, passando, em seguida, a administrar-lhe a unção dos enfermos.

Depois que lhe deu a comunhão e a unção, Monsenhor lhe disse: "José, você está agora com a alma branquinha como a neve". A partir deste instante, o enfermo passou a melhorar e, graças a Deus e à oração de Monsenhor Alderigi, o jovem José Francisco sobreviveu.

Esse relato foi dado pelo próprio José Francisco Rodrigues no dia 21 de agosto de 1998. Neste dia ele mesmo afirmou: "testemunho e agradeço a Monsenhor Alderigi as graças que recebi".

 

 

 

 


Padre Alderigi Torriani era um grande devoto de Nossa Senhora

O papa Francisco sugeriu aos fiéis de todo mundo que se intensifique as orações no mês de maio, através da intercessão de Nossa Senhora. Entre as orações está a recitação do Terço.

"Pensei propor-vos a todos que volteis a descobrir a beleza de rezar o Terço em casa, no mês de maio. Podeis fazê-lo juntos ou individualmente: decidi vós de acordo com as situações, valorizando ambas as possibilidades. Seja como for, há um segredo para bem o fazer: a simplicidade; e é fácil encontrar, mesmo na internet, bons esquemas para seguir na sua recitação", escreveu o Santo Padre.

No seu texto enviado aos cristão católicos, o Santo Padre também ofereceu duas orações à Nossa Senhora, as quais poderão ser rezadas ao final do Terço.

É impossível pensar no Servo de Deus Alderigi Torriani e não recordar o amor filial que ele cultivou por Maria Santíssima. Um primeiro sinal deste seu carinho para com a Mãe de Deus encontra-se no fato de, nos primeiros anos de seu sacerdócio, ter acrescentado Maria ao próprio nome. O nome que seus pais tinham lhe dado era apenas Alderigi Torriani, mas para manifestar sua união com aquela através de quem o Salvador veio ao mundo, o Servo de Deus quis chamar-se Alderigi Maria Torriani. Este foi um gesto ousado de sua parte, pois indica, por um lado, o seu forte desejo de colocar a Virgem Maria como parte integrante de sua própria vida, visto que o nome que temos indica a nossa identidade diante de nós mesmos e também dos outros.

Por outro lado, Padre Alderigi quis que Maria Santíssima, a mulher do sim total à vontade de Deus, fosse a rainha, a protetora e o modelo de seu ministério sacerdotal.

O altar de Nossa Senhora Aparecida que se encontra ainda hoje no interior do Santuário arquidiocesano de Santa Rita, em Santa Rita de Caldas, evidencia também a devoção mariana que Padre Alderigi cultivou em sua vida e também incutiu no coração dos fiéis santarritenses. Ao final de cada Missa, o bom pároco convidava o povo a subir as escadas deste altar para reverenciar a rainha e padroeira do Brasil e colocar os pés da Mãezinha do céus seus pedidos e necessidades. Enquanto isto, com a voz um tanto quanto desafinada, entoava: "Dai-nos a bênção, ó Mãe querida...".

Em uma carta, escrita em janeiro de 1969, Padre Alderigi motiva os seus paroquianos para que se preparem para receber a imagem de Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Minas Gerais. A imagem chegaria em Santa Rita de Caldas no dia 22 de maio de 1969.

"Meus caros conterrâneos:

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima também.

Tenho uma grande notícia para dar aos meus paroquianos!

Quando a gente fala em notícia, dá a ideia de uma novidade, um fato desconhecido. Todos já sabem que no dia 22 de maio, estará aqui presente a venerada imagem de Nossa Senhora da Piedade. Mas o que quero noticiar a vocês é que: Ela não vem só para enfeitar a festa; para chamar atenção como propaganda. Virá par anos trazer as bênçãos da Mãe do Céu, para nos ensinar a sofrer, para tirarmos proveitos de nossas dores. 

Entretanto, nada se improvisa! 

É necessário que nos preparemos e comecemos já. Todas as quintas-feiras, do meio dia às 6h, haverá exposição do Santíssimo Sacramento. 

Quinta-feira, dia 6 de fevereiro, às 6h15, iniciaremos a piedosa cerimônia das quinze quintas-feiras, como preparação para a grande festa; e, às 6h30, haverá Missa. 

Além destes atos comunitários, é necessário: que cada um, que cada família se prepare, porque temos todos necessidade das bênçãos e proteção de Nossa Senhora. Esta é a grande notícia: começo de nossa preparação para a vinda de Nossa Senhora da Piedade; e conto com sua adesão porque só preparando-nos aproveitaremos a vinda de Nossa Senhora. 

A todos, as bênçãos do pároco Padre Alderigi"

As palavras e as ações do Servo de Deus Alderigi Torriani são, também para nós, um incentivo a cultivarmos uma sadia devoção a nossa querida Mãe do céu.

 


Padre Alderigi, homem da simplicidade e da pobreza

padre Alderigi e alguns paroquianos

O padre Alderigi, no começo, era muito energético com seus sobrinhos. Er ao rigorismo da época, exigindo sempre responsabilidade e reclamando deles total exemplo de tudo.

"Como eu morava em Muzambinho (MG), todas as férias, durante os três meses, ficávamos em Santa Rita de Caldas. Toda a tarde havia catecismo e eu sempre o frequentava. Lá, um dia, a catequista foi contar ao tio padre que eu estava bagunçando. Meu Deus! Meu tio veio em cima de mim, com aquela mãozona de gigante, estalou aquele tapa. No mesmo instante, tomado de raiva, revidei mandando-o para o último lugar. Aí ele correu para me pegar e eu corri mais rápido do que ele e ele acabou contando tudo para o meu pai. Realmente ele era terrível para bater em seus sobrinhos. Não que fosse mau. Era o jeito da época que ele, pouco a pouco, teve de superar, até tornar-se o vovô mais querido das crianças", exemplificou o sobrinho, o senhor Benedito Galvão Martins.

Se era rigoroso na educação dos seus sobrinhos, o era mais ainda consigo mesmo, quanto à pobreza. Lá pelo ano de 1951, os paroquianos, sensibilizados com as caminhadas sem fim pelas coças e capelas, resolveram fazer-lhe uma surpresa: ajuntaram verbas, compraram um Jeep verde e lhe ofereceram no dia de seu aniversário. O padre, em vez de ficar contente, deu aquela bronca solene:

- Jesus andava a pé, fazendo longas caminhadas e eu já ando a cavalo! Não posso aceitar esse carro!

- Agora o jeep já está comprado. Que vamos fazer com ele?

- Vende-se e com o dinheiro vamos reformar a igreja matriz!

E a igreja se transformou, recebendo nova pintura e surgiram os belos quadros da vida de Santa Rita de Cássia.

Mais tarde, a família resolveu dar-lhe dinheiro, com a finalidade dele comprar uma nova batina, pois a que usava estava uma vergonha, mostrando seus remendos e sua cor desbotada para qualquer um. Entregaram dinheiro para a batina nova e ele sempre com a velha. Perguntando-lhe sobre o motivo do atraso, sempre vinha com evasivas, até que um dia o apertaram e reclamaram explicação mais clara. Aí ele não teve saída e confessou, meio sem graça, meio zangado:

- Eu não preciso duma outra batina. Eu não estou pelado.

- E o dinheiro que lhe demos? Que fez com ele?

- É, esse eu tive que dar para uma pobre velha.

 

História do livro: padre Alderigi - o carinho de Deus num coração pobre e alegre (2º volume), de Frei Felipe Gabriel Alves - O.F.M.


A oração de fé do padre Alderigi

No dia primeiro de outubro de 1987, o frei Felipinho Gabriel Alves - O.F.M., ouviu a cunhada do Servo de Deus Alderigi Torriani, a senhora Maria Auxiliadora Barbosa Torriani. Ela contou mais um exemplo que comprova a fé deste santo homem, que por 50 anos foi pároco de Santa Rita de Caldas.

É preciso lembrar que padre Alderigi sempre ajudou os doentes, pagando remédios. Assim o frei Felipinho fez sua crônica:

"Em 1947, mais ou menos, o céu do padre Alderigi, financeiramente falando, estava escuro e nuvens carregadas das contas da farmácia o ameaçavam de todos os lados. Os seus pobres sempre doentes, sempre gastando.

Angustiado, ajoelhou-se diante do altar de sua santa padroeira querida, de milagres impossíveis, sempre atenta aos seus pedidos surpresas, mas ultimamente meio ressabiada de tantas importunações. E Santa Rita foi escutando suas lamúrias, suas preces cheias de gemido e desconsolo, clamando por ajuda. Nem era ajuda espiritual não. Era mesmo ajuda material. Dinheiro. E com urgência. O pobre padre Alderigi rezou, clamou, argumentou, confiou e Santa Rita se comoveu com tanta fé e piedade. Ao levantar-se da oração, já deu de cara com Rute Camargo.

Esta senhora sempre espalhava a todo mundo que fora o padre Alderigi, no tempo em que ainda trabalhava em Pouso Alegre (1920-1927), que socorrera sua mãe, deixada viúva em grande pobreza e cercada de filhos, todos pequenos.

Era realmente dona Rute e seu marido, chegando de Campinas, precisamente naquele momento. Trazia uma grande soma de dinheiro, o que muito alegrou toda cidade e revelou o tamanho da fé de nosso vigário amigo.

 

 


"Padre Alderigi: Homem de humildade, simplicidade e fé", afirma Monsenhor Trajano

No dia 18 de abril de 1987, o monsenhor Trajano Lemes Barroco (padre da diocese de Guaxupé, falecido em 2001) foi entrevistado pelo Frei Felipe Gabriel Alves-O.F.M. Na oportunidade, ele contou sobre sua proximidade e amizade com o Servo de Deus Alderigi Torriani e relatou um pouco sobre a personalidade: "as virtudes que nele mais admirava eram a humildade, a simplicidade e a fé que remove montanhas".

Veja o relato completo:

Monsenhor Trajano, em Poços de Caldas

"Pensando sobre a personalidade do padre Alderigi, eu diria que ele foi um homem que abraçou o sacerdócio de corpo e alma. Com dedicação total, durante toda a vida, pelo menos, durante os anos que o conheci. As virtudes que nele mais admirava era a humildade, a simplicidade e a fé que remove montanhas.

Sua humildade. Devido ao fato de eu ter mai estudo do que ele, a mim ele vinha perguntar, se aconselhar, fazendo-se aprendiz, o que me deixava diminuído diante dele. Muitas vezes ele vinha até a mim para se confessar comigo, justo ele que era o maior confessor de toda região.

Sua fé. Como tinha fé no sacerdócio! Fazia questão de beijar as minhas mãos. Como era grande sua fé no sacramento da confissão, do qual foi apóstolo mesmo! Por causa dele, vivia horas e horas na igreja, esperando o povo. Era agradecido ao extremo, cheio de ternura diante de qualquer coisa que se fizesse para ele. E como sabia valorizar os outros! A escola que fundei, o colégio paroquial para 1200 alunos, a escola doméstica com aulas de corte e costura e ensinamentos práticos, ele sempre achava que era a coisa mais linda do mundo, uma vez que ele sempre estava voltado para os pobres sofredores.

Eu, vendo o Alderigi, era do Cura D'Ars que me lembrava".

 

 

 


Dom José D'Ângelo, em 1977, faz homenagem ao Padre Alderigi

Dom José D'Ângelo

No dia 9 de outubro de 1977, o jornal Semana Religiosa, órgão oficial da arquidiocese de Pouso Alegre, trouxe uma bela homenagem escrita pelo arcebispo na época, dom José D'Ângelo Neto. No texto, o arcebispo faz uma apresentação do Servo de Deus, com detalhes e muita simplicidade.

No texto, padre Alderigi é chamado como o homem de Deus, homem da Igreja, homem dos pobres e homem do confessionário. Por muitas vezes, dom José também o proclama como "Santo".

Vamos conhecer um pouco mais sobre o Servo de Deus pelas palavras de dom José?

"Entregamos a Deus, no dia 3 de outubro, às 23h30, o presente que ele dera à humanidade no dia 13 de novembro de 1895 e à sua Igreja que está em Pouso Alegre, como sacerdote, no dia 18 de novembro de 1920: Monsenhor Alderigi Maria Torriani.

Entregamos-Lhe porque nos pedira, porque mais do que ninguém tinha direito sobre ele, porque Lhe pertencia mais do que a nós. De outro modo, gastaríamos de tê-lo sempre presente entre nós, para continuar a ver nele, em sua bondade de Deus Pai, que através dele sempre nos convidou também à bondade, à simplicidade, à santidade. Depois de 57 anos de sacerdócio, 50 de pároco em Santa Rita de Caldas, vividos plenamente para Deus e para seu povo, deixando-nos um exemplo admirável de vida sacerdotal, partiu para a morada definitiva para continuar, agora na contemplação beatífica, o que tão bem soube fazer na terra, no meio de seus ingentes trabalhos paroquiais, rezar, rezar, rezar.

Esta breve notícia que queremos dar nestas linhas, escritas às pressas, é uma pequena homenagem que lhe prestamos neste momento em que choramos sua partida. É, também, uma pálida lembrança do que foi a rica personalidade deste sacerdote, que não tinha apenas uma semelhança física com o Papa João XXIII, mas se parecia muito com ele pela simplicidade, pela bondade, por aquele sorriso fascinante que fazia tantos admiradores, tantos amigos. Dele eu disse o que já dissera de seu colega de ordenação - Monsenhor Joaquim Noronha - quando de sua morte. Sempre quis ser sacerdote e não quis ser outra coisa senão sacerdote, e o foi de modo admirável, como deve ser um santo sacerdote, inteiramente consagrado a Deus e ao serviço de seus irmãos e à salvação da humanidade.

E assim foi um VERDADEIRO HOMEM DE DEUS.

Sua vida foi inteiramente devotada a Ele. Em todo os seus atos, os mais simples, procurou sempre conhecer a vontade do Pai. Basta lembrar, aqui, que foi sempre um HOMEM DE ORAÇÃO. Pode-se dizer, sem exagero, que chegou a cumprir literalmente o que Jesus recomendou: 'É preciso rezar sempre e nunca deixar de rezar' (Lc 18,1).

Adquiriu o hábito da oração, daquela oração que São Gregório de Nossa definiu 'conversativo sermocinatioque cum Deu est', pois sentia-se que vivia sempre na presença de Deus, com quem espontaneamente falava em fervorosas jaculatórias. Tinha sempre seu terço nas mãos, principalmente agora, que tinha de permanecer longas horas na sua cadeira ou no seu leito. A obediência que prestava a seu Deus era verdadeiramente extraordinária, a julgar pela obediência filial e até escrupulosa que prestava a seu bispo.

Foi um HOMEM DA IGREJA.

Para não alongar, lembraria apenas que a preocupação que tinha por conhecer todas as determinações do Magistério e prescrições diocesanas. O esforço que fazia para adaptar às necessidades pastorais de hoje, para conhecer o espírito e as orientações do Concílio Vaticano II. Sua participação nos diversos encontros promovidos para a atualização do clero. A aceitação de todos os movimentos que surgiram nestes últimos tempos e que ele fazia questão de levar logo a seus paroquianos, ainda que pudesse sentir dificuldades em acompanhá-los. Superava estas dificuldades de um modo admirável e edificante para os sacerdotes mais jovens.

Foi um HOMEM DOS POBRES.

Não possuía nada na vida. Ele mesmo dizia, em sua última enfermidade, sem perceber que proclamava uma grande virtude, pois falava mais para ressaltar a bondade de Deus e dos outros. 'Tive sempre minhas mãos abertas para todos, nada retendo para mim, e agora Deus e os homens abriram suas mãos para mim com tal generosidade, que nada me falta e tenho o que nunca tive na vida. Estou muito', fazendo alusão a uma pequena quantia que lhe sobrou nas mãos, dos proventos da aposentadoria de velho. Tinha uma alegria e um prazer imenso em dar aos que nada tinham, aos que batiam à sua porta pedindo pão, remédio, roupa. Foi mesmo muito explorado por causa de sua bondade. O importante, porém, é ressaltar aqui que sua amizade aos pobres foi uma consequência do seu amor a Deus, a Cristo, que ele sempre viu em cada um que se encontrou com ele, em qualquer circunstância. Por isso, era impressionante o respeito que tinha pela fama dos outros. Nunca falava de alguém. Tinha mesmo o costume de fazer esta recomendação aos que o procuravam para receber bênçãos: 'Não fale mal dos outros'.

Foi o HOMEM DO CONFESSIONÁRIO.

Verdadeiro Cura D'Ars, passava horas intermináveis em atender seus paroquianos e os numerosos romeiros de seu santuário. Chegava a não tomar a refeição para que pudesse ficar à disposição dos penitentes. Substituia frequentemente seu almoço por uma fruta e um pedaço de queijo, que comia ali mesmo, no confessionário, para que o tempo não escasseasse para o ministério. Homem carismático, procurado insistentemente para dar bênçãos, exigias antes da bênção a confissão.

Agora, no hospital, aflorava de seu subconsciente esta preocupação com o ministério de confessar e a muitos que o visitavam perguntava: 'Já fez sua Páscoa? Já se confessou?'.Aconteceu, por isso, um fato pitoresco, em um dia em que estava sonolento, sob efeito de medicamento. Estava com ele, para uma visita amiga, seu velho professor, padre Marino, de 92 anos de idade, que, assentando-se ao seu lado, foi surpreendido com a mesma pergunta: 'O senhor já fez sua Páscoa? Precisa se confessar'. Ele mesmo, o grande confessor, foi sempre um assíduo e humilde penitente. Disse-me o padre Braz, o jovem sacerdote que lhe sucedeu na paróquia, que a cada oito dias se confessava.

Esta sua humildade não era só diante de seu Deus. Costumava, anualmente, escrever-me no fim de dezembro e assim fazia o Chanceler do Arcebispo, para agradecer os favores que julgava ter recebido da gente, e acrescentava, invariavelmente, em suas cartas a mim, que lhe perdoasse todas as faltas que pudesse ter tido durante aquele ano, em seu relacionamento com o bispo.

Última foto tirada em vida

Não comporta, nesta rápida notícia um perfeito necrológico. Eu quero apenas registrar no momento nossa grande tristeza pela sua morte (do Padre Alderigi), e nossa imensa gratidão pelo que ele foi para nossa arquidiocese, para nosso clero e, particularmente, para mim. Não o esqueceremos. Sabemos que o perdemos aqui para ganhá-lo como intercessor junto a Deus. Sua vida foi coroada por uma morte santa. Quis Deus enriquece-lo de méritos numa vida longa e dolorosa enfermidade, que ele mesmo desejou e chegou mesmo pedir para que se assemelhasse mais a Cristo Sacerdote.

Durante estes últimos dias, quando suas dores transpareciam nas contratações da face, dizia que não tinha dores e, sem se queixar nem uma vez sequer, rezava e nos pedia que rezássemos para que não perdesse a paz do espírito.

Deus, que sempre foi de uma prodigalidade imensa para com seu servo, quis lhe satisfazer delicadamente a seu desejo. Repentinamente lhe concedeu tal melhora em seu estado, que o médico lhe concedeu alta e permitiu sua volta para sua querida e pobre casa paroquial. Saudou a notícia batendo palmas e festejou seu regresso com amigos, que logo acorreram à sua casa, na tarde de segunda-feira. Jantou bem, tomou meio copo de cerveja. Às 22h aceitou um pedaço de fruta que lhe ofereceram. E assim, às 23h30, tranquila, serenamente, como sempre foi sua vida, cercado do carinho e das lágrimas dos seus filhos espirituais, partiu definitivamente para a casa do Pai.

Seu sepultamento, no dia 4, depois da Celebração Eucarística, da qual participaram conosco 40 sacerdotes, foi uma verdadeira consagração de um santo. Presentes 90 padres, muitas religiosas - muitos destes e destas foram frutos de seu sacerdócio - nossos seminaristas, uma multidão de mais de 10 mil pessoas, levado aos ombros pelo povo que ele tanto amou e serviu, foi nosso saudoso Monsenhor Alderigi sepultado na capela do cemitério paroquial de Santa Rita de Caldas. Um impressionante e piedoso silêncio acompanhou todas as cerimônias, exprimindo de um modo extraordinário aquele sentimento que estava dentro de cada um de nós - estamos diante de um santo.

Deus o tenha nos céus, como nosso intercessor, e nos dê novos presentes como ESTE que ELE nos deu há 82 anos para o mundo ficar melhor e fê-lo seu sacerdote, para a Igreja cumprir melhor sua missão.

Nós vô-lo entregamos porque vós nô-lo pedistes: porque ele era mais vosso do que nosso. E porque vô-lo damos, pedindo que. nos deis muitos outros sacerdotes como ele".


#Crônica: O enterro do Servo de Deus

O senhor João Lorena era professor, líder paroquial e amigo do padre Alderigi Torriani. Ele escreveu essa bonita crônica sobre o enterro do Servo de Deus, no dia 4 de outubro de 1977.

Antecedendo o sepuéalmento do padre Alderigi, por decisão do arcebispo, missa concelebrará. O corpo é transladado para a rampa fronteiriça da Igreja. Por gentil determinação e em demonstração de amor e respeito ao padre, o comandante do destacamento policial reúne seus comandados e, em uniforme de gala, determina guarda especial de honra ao corpo exposto no tempo.

A praça da matriz está repleta. O sol declina. Todos choram. São lágrimas de dor, de sentimento, de gratidão, de amor, de veneração. O constrangimento é geral. O senhor arcebispo fala. Sua voz é entrecortada pela tristeza e dor. Terminada a cerimônia em frente à matriz, seu corpo é levado para sua última morada. Todos querem carregá-lo. A. multidão se aglomera e o caminho até o cemitério está repleto de amigos. 

As sirenes da ambulância são acionadas até sua potência máxima. É um verdadeiro choro de crianças, vendo o pai partindo. No campo santo, todos se acotovelavam. São as últimas homenagens. São as últimas preces. Junto à capela, uma voz se faz ouvir. É o doutor Dalmo Ribeiro da Silva que fala em nome da população de Ouro Fino. O silêncio é geral. Sente-se o choro abafado de todos. De um carneiro, mais atrás, outra voz se levanta. É o professor Lorena falando em nome dos santarritenses. O sol está bem baixo. Reina o silêncio. O senhor arcebispo, os padres, todos os familiares aguardam. Encarregados trabalham. Não é preciso água. As lágrimas são tantas para isso justificar.

Pouco a pouco a urna se cobre. Todos lá estão, sem arredar um passo. Tudo acabado. O sol declina. Vem a noite. No céu, as primeiras estrelas. Na casa do Pai, os Coros Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins, Tronos e Potestades, a Virgem Maria, Santa Rita, todos os santos da Milícia Celeste cantam hinos de louvor à Trindade, pela entrada, no reino que não terá fim, dessa alma que deixou a todos um exemplo de religiosidade, humildade, amizade, sinceridade.

Acabara o Padre Alderigi? Não. Dentro da perspectiva da vida, foi o seu corpo, a matéria, que não pode mais suportar a vida. Suas carnes já não conseguiam manter presa ao corpo, aquela alma que aspirava à eternidade. Padre Alderigi simplesmente nos antecedeu. Partiu antes de nós, depois de ter vivido a vida que Deus lhe dera. Antecipou-nos sim, e lá está ele, vivo a olhar e a interceder por todos nós.